A crise está aí, ostensiva, estrutural, exibindo sua pujança e arrastando seu saco de maldades.
Seu centro não é a economia, que vai mal mas não é determinante, por
mais que sirva de base e pretexto para muita coisa. É a política: o
sistema, as regras e sobretudo o modo de fazer política, a cultura
política. Estão todos tão impregnados das toxinas emitidas pelo sistema
que nem sequer conseguem olhar o fundamental. Os que olham, não sabem o
que fazer.
Acreditar que um novo tempo começará com o afastamento de Dilma é
ingenuidade; dizer isso é tentar criar ambiente. Haverá muito mais
continuidade do que ruptura na transição que ocorre no mundo político.
É
a mesma elite política, a mesma turma que estava com Dilma e que agora
seguirá Temer. Seu limite está dado pelo fato de se fazer sem sintonia
com a transição que transcorre no mundo social e que explode nas casas,
nos locais de trabalho, nas escolas e nas ruas de alguns anos para cá.
O impedimento de Dilma significa essencialmente a abertura de uma
nova oportunidade, que poderá ou não ser aproveitada. Tentativa de
acionar um freio de arrumação: reacomodar os interesses e as forças
políticas, cuja diáspora levou à morte o governo petista, impedindo-o de
governar.
Não dá livre curso à soberania popular, não a representa no sentido preciso da expressão, ainda que os ecos das ruas se façam sentir no plenário. Os representantes seguem mais as fumaças do poder, que muitas vezes chegam a inebriá-los.
Teremos de aguardar um pouco para saber o que haverá de ruptura neste
quadro marcado pela continuidade. A política está sempre a criar fatos e
alternativas.
Os aliados e os torcedores do PT hoje estão a esfregar as mãos: vamos
sair, mas os primeiros esboços do governo Temer provam o que sempre
dissemos. O “golpe” será plenamente revelado quando vier à luz o novo
governo, que será tão ruim ou pior que o de Dilma.
Fonte: blog do Marcos Aurélio
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