As abordagens jornalísticas que estão sendo empregadas em
um contexto permeado por delações merecem uma reflexão ética mais consistente.
É preciso estar ciente de que nenhuma fonte de informação está imune ao erro. A
apuração segue sendo um elemento fundamental para que acusações infundadas não
se tornem verdades absolutas
Em tempos de “combate à corrupção”, as delações premiadas
se tornaram uma verdadeira obsessão dos jornalistas ligados ao segmento
político no Brasil.
Atualmente, o leitor desinformado terá dificuldades para
identificar e diferenciar as informações políticas e as informações policiais
presentes nas páginas dos jornais, sites e mídias sociais, particularmente nos
veículos tradicionais de comunicação. A abordagem adversarial dos temas
políticos não é novidade, entretanto, o jornalismo político contemporâneo pode
ser comparado a um “esgoto a céu aberto”.
Sem dúvida, o teor das “revelações” é estarrecedor, os
índices de corrupção e a falta de comprometimento dos nossos representantes
merecem ser divulgados e os interesses privados, que afetam o interesse público,
devem ser revelados. Mas, em uma perspectiva embasada nos princípios da ética
jornalística, podemos afirmar que o conteúdo das delações pode ser considerado
informação política?
Para clarear os aspectos e os dilemas éticos que envolvem
essa problemática recorro à etimologia de duas palavras que, na minha opinião,
devem estar atreladas a abordagem de temas políticos, são elas: respeito e
política. A origem da palavra respeito está relacionada ao Latim, respectus que
significa “olhar outra vez”. O sentido singular da palavra, e que quero
enaltecer, está ligado a algo que merece consideração. Os temas políticos que
emergem da sociedade merecem “respeito”, nem tudo o que é político está
impregnado pelo miasma da corrupção.
A quem interessa a degradação da política?
Uma constatação que parece óbvia diante da apresentação
adversarial dos temas políticos, particularmente a preponderância de
informações relacionadas a corrupção, é que quanto mais a percepção sobre o
universo político é negativa mais ele se restringe aos especialistas habituais.
A omissão de informações políticas relacionadas aos diversos grupos que estão à
margem do sistema político institucional/formal e buscam discutir e apresentar
argumentos no cenário político, demonstra a centralidade do entendimento de
política e, ao mesmo tempo, quem são os atores políticos que merecem
notoriedade para o jornalismo político.
Recentemente os pesquisadores do objETHOS, Sylvia
Moretzsohn, Lívia Vieira e Dairan Paul abordaram temas relacionadas a essa
problemática. No artigo Spotlight, vazamento seletivo e os dentes do cavalo,
Moretzsohn destacou a falta de verificação das informações provenientes das
delações premiadas: “o cuidado elementar de todo jornalista, que é, antes de
mais nada, verificar a quem interessa a informação que lhe cai no colo,
confirmar sua veracidade e publicá-la – quando for o caso – em seu devido
contexto, passou a ser algo perfeitamente dispensável”.
As abordagens jornalísticas que estão sendo empregadas em
um contexto permeado por delações merecem uma reflexão ética mais consistente.
Não podemos aceitar que a política se resuma ao conjunto de acusações seletivas
que está pautando as editorias de política atualmente. Essa constatação pode
ser facilmente identificada nas “informações políticas” .
http://blogdaneiapedrosa.blogspot.com.br/2016/02/porque-o-jornalismo-politico-esta.html?m=0
ResponderExcluir