O assunto agora nos principais jornais do país é a traição de FHC e suas
conturbadas relações políticas embaralhada com seus relacionamentos amorosos. Depois
de ler alguns textos sobre o assunto, achei
interessante a colocação abaixo feita por uma jornalista Nathalí Macedo,
vejamos.
"Quando escrevi o texto sobre o relacionamento flangrantemente abusivo entre
FHC e Míriam Dutra, exatamente como previ, surgiram inúmeras acusações de
vitimismo, pessoas mencionando o consentimento da jornalista, a “maturidade” e
“independência” que teoricamente nos salvariam da opressão, e, pasmem: a falta
de cumplicidade de Mírian, a amante, para com a esposa do homem que amou.
Esse argumento realmente faria sentido, não fosse o fato de as mulheres
serem recrutadas, a vida inteira, para competirem entre si. Pior do que isso:
para competirem por um homem.
Ruth Cardoso era doutora em antropologia e esteve envolvida em estudos sobre
movimentos feministas, étnico-raciais e de gênero, ainda na década de 50,
quando esses movimentos não eram tão difundidos fora do ambiente acadêmico.
Claramente, uma mulher a frente do seu tempo.
Como, então, uma mulher tão inteligente e socialmente embasada foi traída
por seu marido poderoso durante décadas e jamais reagiu?
É impossível determinar suas razões, mas o fato é que, para uma mulher,
lidar com a traição – e com a opressão, de modo geral – não é tão fácil quanto
filmar o traidor saindo de um motel com sua amante, difamá-lo, postar na rede e
aguardar os aplausos, como aconteceu no recente caso da mineira que teve a vida
escancarada na internet. Para uma mulher, sempre há inúmeras outras coisas além
de uma amante e de um casamento fracassado.
Há os filhos (e, para a sociedade, uma mulher é menos mulher se não abdica
da própria felicidade em nome da cria); há a sociedade, que ainda nos convence
de que precisamos estar em um relacionamento para sermos realmente plenas,
felizes e respeitadas (porque só então se pode dizer que encontramos um homem
que nos assuma); Há a romantização da infidelidade (afinal, homens são assim
mesmo e se você foi traída, provavelmente deixou que faltasse algo ao seu
companheiro); e há, sobretudo, a certeza insana de que a culpa não é dele: a
culpada é sempre a outra, a amante, aquela que quer apoderar-se do seu posto de
companheira respeitada e “assumida”, e é contra ela que se deve lutar.
No Brasil, somos educadas para sermos apenas mulheres. Nossa educação
provinciana, embora já nos permita frequentar universidades, nos esconde a
verdade que é a única capaz de nos libertar: nós podemos mais do que sermos as
primeiras-damas, as mulheres deles, dos homens que realmente detêm o poder.
(Nota: superar isso, vencer a ditadura e chegar à presidência é um feito para
poucas).
É hipócrita cobrar que as mulheres se respeitem e se considerem depois de
defender que homens são artigo de luxo e que um homem é tudo o que se pode
querer, independente das circunstâncias. Quando você, mulher, se deixa
convencer disso, você não larga o osso.
O homem que trai não é o vilão. Ele é a caça.
Aos olhos dos outros, uma mulher que desiste de seu relacionamento com o
homem que a traiu e desrespeitou perdeu uma guerra. Deixou que “a outra”, a
nossa inimiga permanente, vencesse. O prêmio? Um homem, é claro — mesmo com as
precárias virtudes Morais de FHC."
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