Lula: “O impeachment se
tornou um processo de vingança contra o PT”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva recebeu o EL PAÍS nesta segunda, em São Paulo, dias depois do processo de destituição da presidenta Dilma ter sido deflagrado, o que acrescenta
ainda mais suspense à explosiva situação política do Brasil e mais incerteza ao
moribundo quadro econômico. Mas Lula, que participa nesta sexta em Madri do seminário O desfio dos Emergentes organizado por este jornal, se confessa
otimista. Superou o câncer, perdeu três eleições e ganhou duas, elegeu sua
sucessora. Os golpes que dá na mesa para reforçar suas ideias soam como bombas.
Às vezes, para o mesmo, pousa carinhosamente suas duas mãos sobre as do
jornalista. É pragmático, expansivo, esperto, afetivo, convincente, demagogo,
simpático e muito falador.
Pergunta. O que você acha do momento delicado que atravessa o
país pela mistura da crise política e econômica?
Resposta. O Brasil vive uma combinação de dificuldades reais.
No campo da política nós temos uma crise, há praticamente um ano a oposição
dificulta que a presidente Dilma governe o país. Nós tivemos problemas na nossa base de sustentação
que a presidenta reordenou quando fez as mudanças no ministério e refez sua base de apoio, mas é uma base
complicada porque o presidente da Câmara constantemente afronta a governança do
país colocando pautas difíceis de serem aprovadas pelo Congresso, inclusive que
complicam a própria economia do país.
P. Mesmo o impeachment.
R. Por isso o esforço da presidenta é muito maior e do
Governo também. E agora ele entra com essa pauta do impeachment sem nenhuma
procedência. Não tem nenhuma procedência jurídica, nenhuma procedência legal...
P. Por que ele faz isso?
R. Eu penso que faz parte da índole dele criar
dificuldade para a presidenta Dilma governar o país. Não há um único indício de
qualquer coisa que possa justificar a presidenta a sofrer um processo de impeachment.
As alegações sobre as contas da presidenta não é o Tribunal de Contas que vota,
é o Congresso Nacional. Então que as contas que sejam votadas no Congresso antes de se
falar em impeachment. Ela fez um pouco o que fazem outros presidentes, que é o
financiamento de projetos sociais pagos pela Caixa Econômica e ressarcidos pelo
Estado algumas semanas depois. Apelidaram de “pedalada”. Não tem nenhum sentido
sofrer processo de impeachment. Você não vota as contas e já coloca o
impeachment? E coloca como um processo de vingança com relação ao comportamento
do PT. Mais grave ainda.
P. Você acha que é um comportamento mesmo de vingança?
Não tem a ver com o país?
R. É um comportamento totalmente irresponsável sem
levar em conta o país. Ou seja, o povo brasileiro está ansioso para que o país
possa voltar a progredir, voltar a crescer. Para que a presidenta Dilma tenha a
tranquilidade de governar esse país, para isso é necessário que se votem as
reformas que a presidenta mandou para o Congresso. É o que vai dar
tranquilidade para a presidenta Dilma exercer o seu mandato.
P. Você, que fez muito pela Petrobras e confiava muito
nessa empresa, nunca foi alertado no buraco que tinha na banda de criminosos
que tinha ali?
R. Quando eu cheguei à presidência, a Petrobras tinha o
equivalente a 3 bilhões de dólares de investimentos por ano. Quando eu deixei a
presidência, a gente tinha 30 bilhões. Você só sabe se existe corrupção se
alguém te diz. Se alguém denuncia, a polícia pega. A imprensa não sabia, o
Ministério Público não sabia, a Polícia Federal não sabia, a diretoria da
Petrobras não sabia porque senão alguém tinha denunciado. A Petrobras tem
conselho, diretoria, 80.000 funcionários, alguém poderia ter denunciado. Isso
acontece no Brasil e acontece no mundo inteiro. Muitas vezes levam anos e anos
pra você descobrir uma quadrilha. É como um tumor. Se ele está doendo, quanto
mais você apertar mais vai sair.
Fonte: Brasil.Elpais
Nenhum comentário:
Postar um comentário