A mentira
nasceu junto com a sociedade. O ser humano começou a mentir assim que se juntou
em grupos, e nunca mais parou. Uma experiência da Universidade de Massachusetts
mostrou que, quando duas pessoas se conhecem, cada uma conta em média três
mentiras - nos primeiros dez minutos de conversa. E pessoas que compartilham a
vida toda (cônjuges, parentes, amigos) também mentem entre si, às vezes de
forma terrível. Todo mundo mente. Tem gente que mente para levar vantagem,
conseguir o que quer. Alguns mentem para não contrariar ou magoar outras
pessoas. Tem quem minta para parecer mais legal e ser aceito socialmente.
Existem infinitas maneiras de mentir, e elas nos acompanham o tempo todo.Sempre
foi assim. A novidade é que está piorando, e muito. Nunca se mentiu tanto (um
estudo assustador, que vamos explorar daqui a pouco, indica que as pessoas
passaram a mentir de três a cinco vezes mais na última década).
A mentira nunca
foi tão corriqueira e tolerada, e por isso ganhou um poder avassalador - hoje
tem papel determinante na economia, na política, na imprensa, na medicina, na
propaganda, no consumo, nas relações humanas. Se você acha que o mundo está
mentindo para você, está certo. O que você nem imagina é quanto.
Onde nada é o que é
Quando se
comunicam via mensagens de texto, as pessoas mentem três vezes mais, em média,
do que falando cara a cara. Usando e-mail, cinco vezes mais. Foi o que
concluíram os psicólogos Robert Feldman e Mattityahu Zimbler, da Universidade
de Massachusetts Amherst, num estudo com 110 pares de estudantes que não se
conheciam. Cada dupla conversou entre si por 15 minutos usando e-mail,
mensagens ou ao vivo.
Em seguida, os cientistas revisaram as conversas e
entrevistaram novamente cada voluntário, para detectar inverdades. E o festival
de mentiras virtuais veio à tona. "Quando você está online, fica menos
contido. Os seus sinais faciais e comportamentos verbais não podem te delatar -
e por isso é mais fácil ser enganoso", explica Feldman. Na próxima vez que
você andar pela rua, repare em quantas pessoas estão com o celular na mão e
usando o WhatsApp. E entenderá por que nunca se mentiu tanto.
A
velocidade da internet também é uma grande aliada na propagação de mentiras. Um
estudo da Universidade Columbia analisou 100 boatos e informações falsas que se
propagaram pela rede entre agosto e dezembro de 2014 - e 1.500 reportagens,
posts e artigos que foram escritos a respeito delas. Concluiu que notícias
falsas tendem a se espalhar mais rápido e com mais força do que as verdadeiras,
e recebem dez vezes mais cliques do que eventuais desmentidos: porque a
mentira, quase sempre, é mais espetacular (e, portanto, mais chamativa) do que
a verdade.
A extinção da mentira
A pessoa
ruboriza, pisca muito, transpira, põe a mão na boca, mexe em objetos, evita o
contato visual. Quando desconfiamos de alguém e notamos indícios assim, é tiro
e queda. Está mentindo! Será mesmo? "Não há tiques universais que indiquem
que as pessoas estejam mentindo. Uma pisca rápido, mas outra pode olhar
fixamente para você, com longas pausas entre as piscadas", diz o psicólogo
Robert S. Feldman, da Universidade de Massachusetts Amherst.
E a
polícia, que supostamente tem técnicas para desmascarar mentirosos, não vai
muito melhor.Por tudo isso, há quem aposte no famoso detector de mentiras.Mas
existe uma coisa que promete avanços contra a mentira: a estimulação magnética
transcraniana (tDCS). Essa técnica consiste em aplicar campos magnéticos sobre
o cérebro, interferindo com sua atividade elétrica - e, com isso, estimular ou
inibir determinadas áreas. Mas o estudo foi pequeno, e o efeito conseguido foi
modesto.
O fato é que a mentira continuará conosco para
sempre. E é inevitável que, daqui a alguns minutos, horas ou dias, você conte a
sua próxima. Resta tentar usá-la para o bem. Como dizia o poeta Noel Rosa:
"Saber mentir é prova de nobreza/Pra não ferir alguém com a
franqueza/Mentira não é crime/É bem sublime o que se diz/Mentindo para fazer
alguém feliz.
Fonte: Super interessante