quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Porque o jornalismo politico está destruindo a política?




As abordagens jornalísticas que estão sendo empregadas em um contexto permeado por delações merecem uma reflexão ética mais consistente. É preciso estar ciente de que nenhuma fonte de informação está imune ao erro. A apuração segue sendo um elemento fundamental para que acusações infundadas não se tornem verdades absolutas



Em tempos de “combate à corrupção”, as delações premiadas se tornaram uma verdadeira obsessão dos jornalistas ligados ao segmento político no Brasil. 

Atualmente, o leitor desinformado terá dificuldades para identificar e diferenciar as informações políticas e as informações policiais presentes nas páginas dos jornais, sites e mídias sociais, particularmente nos veículos tradicionais de comunicação. A abordagem adversarial dos temas políticos não é novidade, entretanto, o jornalismo político contemporâneo pode ser comparado a um “esgoto a céu aberto”.


Sem dúvida, o teor das “revelações” é estarrecedor, os índices de corrupção e a falta de comprometimento dos nossos representantes merecem ser divulgados e os interesses privados, que afetam o interesse público, devem ser revelados. Mas, em uma perspectiva embasada nos princípios da ética jornalística, podemos afirmar que o conteúdo das delações pode ser considerado informação política?


Para clarear os aspectos e os dilemas éticos que envolvem essa problemática recorro à etimologia de duas palavras que, na minha opinião, devem estar atreladas a abordagem de temas políticos, são elas: respeito e política. A origem da palavra respeito está relacionada ao Latim, respectus que significa “olhar outra vez”. O sentido singular da palavra, e que quero enaltecer, está ligado a algo que merece consideração. Os temas políticos que emergem da sociedade merecem “respeito”, nem tudo o que é político está impregnado pelo miasma da corrupção.


A quem interessa a degradação da política?


Uma constatação que parece óbvia diante da apresentação adversarial dos temas políticos, particularmente a preponderância de informações relacionadas a corrupção, é que quanto mais a percepção sobre o universo político é negativa mais ele se restringe aos especialistas habituais. 

A omissão de informações políticas relacionadas aos diversos grupos que estão à margem do sistema político institucional/formal e buscam discutir e apresentar argumentos no cenário político, demonstra a centralidade do entendimento de política e, ao mesmo tempo, quem são os atores políticos que merecem notoriedade para o jornalismo político.

Recentemente os pesquisadores do objETHOS, Sylvia Moretzsohn, Lívia Vieira e Dairan Paul abordaram temas relacionadas a essa problemática. No artigo Spotlight, vazamento seletivo e os dentes do cavalo,  Moretzsohn destacou a falta de verificação das informações provenientes das delações premiadas: “o cuidado elementar de todo jornalista, que é, antes de mais nada, verificar a quem interessa a informação que lhe cai no colo, confirmar sua veracidade e publicá-la – quando for o caso – em seu devido contexto, passou a ser algo perfeitamente dispensável”.


As abordagens jornalísticas que estão sendo empregadas em um contexto permeado por delações merecem uma reflexão ética mais consistente. Não podemos aceitar que a política se resuma ao conjunto de acusações seletivas que está pautando as editorias de política atualmente. Essa constatação pode ser facilmente identificada nas “informações políticas” .



Fonte: Ricardo José Torres, no Observatório da Imprensa.

Um comentário:

  1. http://blogdaneiapedrosa.blogspot.com.br/2016/02/porque-o-jornalismo-politico-esta.html?m=0

    ResponderExcluir